Como sabemos, a verdade é que Sherlock Holmes nunca disse tal. Encontramos, sim, na leitura das suas aventuras, expressões tais como: "Assim o espero, Watson, assim o espero." ou "Marque um ponto, Watson.", entre outras possíveis de citar.
O processo ou processos pelos quais acontecem imprecisões deste tipo, ou o modo como nos situamos enquanto leitores face ao imenso universo literário disponível; é esse mesmo o centro da análise e reflexão de Pierre Bayard. Professor de literatura e psicanalista, Bayard interroga-se sobre "como falar dos livros que não lemos". É neste contexto que podemos acompanhar uma conversa com ele, e também com Umberto Eco. Analisando o facto de, inúmeras vezes, certas afirmações (ou negações) serem incorrectamente atribuídas a diversos escritores, Eco (com muito sentido de humor) refere, entre outros exemplos, precisamente o caso de Sherlock Holmes e da célebre expressão "Elementar, meu caro Watson!".
Certo é ser impossível ler tudo. De acordo com Bayard, não devemos culpabilizar-nos por isso. Sinceramente, fico muito mais aliviada. Sei o quanto não vou conseguir ler, o quanto me falta ler, o quanto gostaria de ler que nunca concretizarei... Movemo-nos num universo literário que nos escapa. No entanto, ele é-nos familiar. Ainda que muitas vezes com imprecisões, passeamos por ele, quase sempre com muito prazer.
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7 comentários:
Como é que alguém que fala fluentemente inglês, como o faz Bayard, precisa de alguém que lhe traduza o que Eco e o entrevistador estão dizer -- em inglês?!...
Uma destas nunca tinha visto!
Bem me parecia que aquilo trazia água no bico... ;)
Voltaste ao Baker Street! Ainda bem, é um belíssimo blogue!
Beijinhos!
É verdade, RAA. Boa observação :))
Também reparei, e achei caricato. Acho que ele, a dado momento, faz um gesto que leva a crer que a tradutora está é a incomodá-lo.
Enfim. Preciosismos.
Lord: gosto imenso da temática :)
E o Sherlock Holmes merece!
Obrigada pelas estimulantes palavras.
Eu adoro o homem; sou um fanático do fantástico vitoriano, mas, como sou também apanhado por lógica, códigos, cifras alquímicas, etc, e adoro policiais...
Claro, que as histórias fantásticas dele também são muito boas; e com uma ironia que não se encontra, por exemplo, em H. G. Wells.
P. S. Avisei a canalha... LOL!
Quando em novo, e depois já em menos novo, o li encantou-me o modo do seu raciocínio hipotético-dedutivo! :) Sempre senti, em todo o caso, que ali havia artifício de ficção. Que singularidades eram apostas no narrativa para justamente obter a solução pré-determinada... mas, gostava e gosto! :)) Lembrou-me sempre Platão, o qual ensinava que devíamos alcançar explicações para as situações dadas, mas, depois, esforçarmo-nos por imaginar um princípio geral do qual se pudessem deduzir as explicações encontradas :)) Giro, Platão e Sherlock Holmes.
...excelente retorno
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