sábado, 10 de julho de 2010

Poema negro

A morte jaz completamente deitada
caída na horizontal
de outro modo nunca o seria
o corpo vazio e o sopro extinto.

A morte jaz entre flores caída horizontal
em volta há corpos de pé ainda na vertical
(e um vaguear animal cola-se à morte inerte)

A vida senta-se num corpo que antes estava de pé
deita-se depois na cama de noite para a revolver
a cores mergulha no sono...
doce dormir que dorme devagarinho no seu horizonte
suave sono repouso-sonho que outros gerou antes de morrer

A morte exala esse aroma de citrinos impossíveis
no seu plano horizontal desloca-se em pano de fundo
e há estilhaços de vida sensações fragmentos
a representar à boca de cena 

A morte jaz ali tão deitada parada na horizontal
E há um vaguear animal correndo na vertical

A.P.


3 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Esplendido, Ana Paula, gostei muito.

Ana Paula Sena disse...

Obrigada, RAA.

Por estranho que pareça, gostei muito de o escrever.

Manuela Freitas disse...

Este é um poema, possivelmente motivado por recordações, a mim as trouxe e é exactamente assim como a Ana Paula diz.
Bj,
Manuela