O dia quebrava suavemente a sua luminosidade. Nesse fim de tarde, ela devia entregar uma carta no 9ª andar do edifício 49 situado na Rua das Sombras. Aquele que já espreitava ao dobrar da esquina por entre as frondosas árvores. Não era a primeira vez que lá ia. Mas os desagradáveis calafrios do costume começavam de novo a invadi-la. Era a antecipação do ambiente gélido que ia encontrar. Sabia ser algo ridículo, uma vez que corria o mês de Agosto e o calor tinha sido tremendo e difícil de suportar durante todo o dia. Mas o ar gélido e pesado que emanava do 9º B era outra coisa. Estava ligado às pessoas que trabalhavam no local. Ela nunca tinha encontrado uma explicação para o frio cortante que sentia sobre a pele, sempre que o olhar de alguma daquelas pessoas se dirigia para si.
Preparou-se para tocar à campainha. Estranho! Nenhum botão com o número 9 era visível. Todos os andares do edifício tinham sido contemplados com os respectivos números - verificou de novo atentamente. Do r/c ao 12º andar, todos os apartamentos podiam ser avisados da sua chegada. Mas o 9º andar parecia ter-se eclipsado. Pelo menos, ela não o via. No telemóvel procurou o número do escritório. Temeu que ninguém atendesse. O local sempre lhe parecera estranho. Mas fez a ligação e aguardou pacientemente. Ouviu-se uma voz que lhe soou metálica. Depois de se identificar e explicar ao que ia, hesitante justificou o seu telefonema com o estranho desaparecimento das campainhas do 9º andar. A voz permaneceu em silêncio, mas a porta abriu-se imediatamente. Ela desligou. Receosa abandonou o ar quente da noite de verão que pairava lá fora. Dentro estava muito frio. Sentiu ranger o esqueleto dentro do corpo.
Não lhe apetecia continuar e subir mas tinha uma tarefa a cumprir. Entrou no elevador. A porta pesada, muito antiga, bateu bruscamente. A luz tremia e ela procurava o botão do 9º com os seus dedos esguios que tremiam também. Não viu nenhum que correspondesse. Perturbada carregou no 10. Um gesto que lhe pareceu sensato. O 10 é logo a seguir ao 9. Bastar-lhe-ia depois descer um lance de escadas. Enquanto o elevador subia, decidiu não dar importância a estes estranhos factos. Só queria sair dali rapidamente. Devagar, o elevador cumpria a sua ascensão.O número 10 iluminou-se e ela suspirou de alívio. Com força, empurrou a porta. Já no patamar, procurou logo as escadas que a levariam ao andar de baixo. Eram escuras e apertadas mas animava-a a proximidade do seu destino.
(continua)
1 comentário:
Olá querida Ana Paula,
Mistério...fico à espera da continuição...
Eu gosto muito de Lisboa e o que hoje mostrei no blogue é uma pequena parte do que gosto!...É agradável tomar um café no Martinho da Arcada e depois ir a pé pela Rua Augusta até ao Chiado e andar lá pelas livrarias...e...e...
Desejo-lhe uma boa Páscoa e que as férias tenham sido relaxantes.
Beijinho,
manuela
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