domingo, 18 de novembro de 2007

O Mistério de Cloomber (I)



Tal como já referi anteriormente, Sherlock Holmes foi uma criação de Conan Doyle de tal forma forte que conseguiu eclipsar, em grande medida, as outras obras literárias do escritor. No entanto, muitas são as que se encontram disponíveis para leitura e que não deixam de suscitar o mais vivo interesse por parte de todos os apreciadores do género. É o caso de O Mistério de Cloomber (1888) . Esta história, passada na Escócia, possui um elemento extra que prende a atenção do leitor: um castelo. Para todos aqueles que gostam destas antigas construções, este é sem dúvida mais um pólo de atracção a acrescentar ao sempre misterioso enredo. É de assinalar que este estilo de ambiente de grande incógnita constitui uma atmosfera constante até ao final. O qual não deixa de surpreender e de manter interrogações no "ar" que ficam para quem as quiser pensar.

Como exemplo de criação do cenário onde decorre a acção, em particular, aquele que Doyle descreve como sendo o do Castelo de Cloomber, pode ler-se:

" (...) A ocidente estendia-se a praia vasta e amarela, depois o mar da Irlanda, ao passo que, em todas as outras direcções, o plaino desolado - verde-acizentado no primeiro plano e cor-de-rosa à distância - espalhava-se até ao horizonte em curvas longas e baixas.
Muito desolada e solitária era esta costa de Wigtown!
(...)
Uma vez perdida Branksome de vista, não havia nenhum sinal de trabalho do homem, excepto a alta torre branca do castelo de Cloomber, que se erguia como a pedra tumular de um sepulcro gigante, no meio dos abetos e dos lárices que o cercavam.
Este grande edifício, a uma milha ou mais da nossa residência, tinha sido construído por um rico negociante de Glasgow, com gostos estranhos e a mania da solidão; mas na altura da nossa chegada havia vários anos que o castelo não era arrendado.
Exibia ele os seus muros maculados pelas intempéries e as suas janelas vazias abertas de par em par, fitando o vago por cima da colina.
Sem hóspedes, como que enferrujado, servia apenas de ponto de referência aos pescadores, que haviam descoberto, pela experiência, que, alinhando a chaminé do
laird e a torre branca de Cloomber, podiam determinar a rota através dos malditos recifes que apresentam o dorso coberto de asperezas como o de um qualquer monstro adormecido sobre as águas agitadas da baía batida pelos ventos."



Ou ainda:

" (...) Tomou por uma pequena vereda através da charneca, que nos conduziu a um terreno sobreelevado, de onde avistávamos o castelo a nossos pés, sem a nossa vista ser perturbada pelos abetos que tinham sido plantados em seu redor.
- Repara nisto - disse a minha irmã, detendo-se no cume da pequena eminência.
Cloomber ficava por baixo de nós, resplandecendo de luz.
No piso inferior, as portadas impediam-nos de ver a iluminação, mas acima, desde as largas janelas do segundo piso até às fendas estreitas do alto da torre, não havia um interstício ou uma abertura que não lançasse para o exterior um jorro de luz.
O efeito era tão ofuscante que, por um momento, fiquei persuadido de que a casa estava a arder, mas a fixidez e a transparência da luz depressa me retiraram tal apreensão.
Tratava-se, evidentemente, do efeito de um grande número de candeeiros dispostos sistematicamente em todo o edifício.
A impressão estranha que se sentia era acrescida pelo facto de todas estas salas, brilhantemente iluminadas, se acharem, na aparência, desocupadas e de algumas, tanto quanto podíamos avaliar, nem sequer estarem mobiladas.
Em toda aquela grande casa não havia nenhum sinal de vida ou de movimento: nada a não ser o jorro claro de luz amarela imutável."

Excertos de O Mistério de Cloomber de Sir Arthur Conan Doyle



(Imagens: resultados de pesquisa no Google)

1 comentário:

Miguel Garcia disse...

Boa noite Professora, em primeiro lugar obrigado pela resposta!
Em brevo vou colocar o artigo no blog.
Não conhecia O Mistério de Cloomber, mas já vi que existe à venda em Portugal.
Estou agora a ler mais um livro de Bram Stoker, do periodo inicial, nota-se muito a influencia de Wilde, fala-se em artes, na beleza... mais pensativo... tambem desconhecia esta fase de Stoker.
Cumprimentos