segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Legato

a morte saiu à rua a morte espelhada no teu rosto um esboço de antecipação negada todos os dias e a vida saiu à rua espalhada nos teus gestos firmes determinados e a espera do inominável que se reconhece ao longe quando o teu rosto se aproxima devagar do ponto do ocaso como se o mundo inteiro ainda estivesse muito mais além destes momentos de não-morte sempre enganada entorpecida pelos sons e desorientada com os odores inexplicáveis da terra molhada. a morte inteira na tua mão que escreve combativa porque é vida e a morte que assim se afasta para um lugar onde nunca iremos todos nós e os teus olhos dizem-me que te zangas que te entristeces e eu nunca seria capaz de os explicar quando bebo todo esse teu olhar imponderável esguio que à noite parece fruto da minha imaginação por entre todos os fantasmas da ilusão. agora és tu que não entendo e não a morte desconhecida és tu que vagueias nos meus sonhos porque descreves um movimento suspenso no instante em que a tua flecha me atinge e a sua origem parece estar toda concentrada no arco da tua existência. só não há morte porque o teu rosto vive noite e dia e a tua palavra diz tudo o que há para dizer até morrer.

2 comentários:

Manuela Freitas disse...

Olá querida Ana Paula,
Passo sem muito ruído, só para lhe dizer, que escreve muito bem!
Bj,
Manuela

Ana Paula Sena disse...

Muito obrigada pelas palavras estimulantes, Manuela :)

Um beijinho para si.