sexta-feira, 19 de março de 2010

O fantástico em Selma Lagerlöf

Esta grande senhora das letras, foi também mestra na criação do fantástico como estilo narrativo. Assinalo dois magníficos exemplos, um deles através da sua adaptação ao cinema, realizada por Victor Sjöström.

Escreveu Selma Lagerlöf:
«Durante todo o trabalho, sentiu uma ligeira corrente de ar, como se uma aragem fria lhe tivesse acariciado a fronte. Levantou os olhos e viu então, em pé, diante de si, a sua defunta irmã adoptiva.
Elsallil colocou a mão sobre a roca para fazê-la parar e ficou sentada, quieta, contemplando sua irmã. Primeiro teve medo, mas depois pensou para si mesma: "Não me fica bem ter medo da minha própria irmã adoptiva. Quer ela esteja viva ou morta, fico na mesma satisfeita por vê-la."
- Querida - disse ela à defunta, - desejas algo de mim?
A outra respondeu-lhe com uma voz que não tinha tonalidade nem força:
- Minha irmã, Elsallil, estou a servir na estalagem e a estalajadeira fez-me ficar o dia inteiro de pé a lavar copos e pratos. Ao chegar a noite estou tão cansada que já não aguento mais. Vim aqui para te perguntar se não queres vir ajudar-me.
Ao ouvir isto, Elsallil achou que se tinha estendido uma cortina sobre o seu entendimento. Deixou de poder pensar, questionar, ou sentir receio. Apenas conseguia sentir alegria por poder voltar a ver a sua irmã adoptiva, e respondeu-lhe:
- Claro que quero, querida. Vou imediatamente ajudar-te.
Então, a defunta dirigiu-se para a porta e Elsallil seguiu-a. Quando chegaram ao limiar, a irmã parou e disse a Elsallil:
- Deves pôr a capa. Lá fora há uma tempestade violenta. (...)»
in O Tesouro, Selma Lagerlöf


"Körkarlen - The Phantom Carriage" (1921) é um filme mudo sueco, realizado por Victor Sjöström e baseado numa história de Selma Lagerlöf (Körkarlen - 1912). Ingmar Bergman assinalou-o como um dos seus filmes preferidos - depois de o ter visto pela primeira vez, ainda muito jovem, considerou-o permanente fonte de inspiração.




Imagem: pesquisa do Google

4 comentários:

manuel afonso disse...

E é um filme de 1921! Com tanta imaginação, técnica e qualidade de imagem ninguém diria.
Não posso deixar de dizer que gosto muito do blog. Há um cuidado muito especial na escolha dos temas e das imagens. Parabéns.

manuel afonso disse...

E é um filme de 1921! Com tanta imaginação, técnica e qualidade de imagem ninguém diria.
Não posso deixar de dizer que gosto muito do blog. Há um cuidado muito especial na escolha dos temas e das imagens. Parabéns.

Ana Paula Sena disse...

Muito obrigada, Manuel :)

O tema, que pretendo modestamente homenagear com este espaço, é-me muito caro, tenho por ele um carinho especial. Ainda que me falte tempo para o desenvolver mais e melhor.

A sua presença é bem-vinda!

Manuela Freitas disse...

Olá Querida Ana Paula, que maravilha, nem conhecia a escritora, nem o filme. É fantástico esse bocadinho do filme, que eu gostava de ver todo.
Obrigada por esta revelação.
Beijinhos,
Manuela