Sempre gostei imenso daqueles parágrafos das célebres aventuras de Sherlock Holmes, nos quais Conan Doyle presta larga homenagem à natureza. Nessas passagens, não só fica clara toda a sua genialidade de escritor - ao recriar de forma tão vívida os ambientes naturais nos seus mais ínfimos e, aparentemente, insignificantes detalhes -, como há também ali uma nítida faceta de culto pela mãe-natureza. Um respeito e um prazer pela sua envolvência no quotidiano humano, um olhar atento, sério e demorado, sobre as suas diversas transformações, raras vezes totalmente controláveis. Assinale-se, por exemplo, a modificação operada na paisagem pela revolução industrial, como é o caso descrito neste excerto que transcrevo.
Recordo essas leituras (e essas passagens) sempre tão do meu agrado. Há momentos especiais. Muitos deles acontecem fora de 221-B Baker Street. São suas extensões, e uma espécie de vaivém permanente. Porque a casa é o eterno retorno.
«Descemos no apeadeiro à beira da estrada e atravessámos, durante milhas, uma região de matas esparsas que antigamente tinham feito parte da grande floresta que, durante muito tempo, detivera os invasores saxões - a impenetrável floresta que durante sessenta anos foi o baluarte da Bretanha. Vastos trechos tinham sido desbravados, pois fora ali o local das primeiras siderurgias do país e as árvores tinham sido derrubadas para alimentar a fusão do minério. Agora, os campos mais ricos do Norte tinham absorvido essa indústria e nada (a não ser aqueles pequenos bosques devastados e as grandes cicatrizes na terra) indicava o trabalho do passado. Na parte limpa, na encosta de um monte, via-se uma casa baixa, de pedra, à qual se chegava por um caminho que serpenteava através dos campos. Perto da estrada e cercada em três dos lados por moitas, via-se uma cabana com uma janela e uma porta para o nosso lado. Era ali a cena do crime.»
«Descemos no apeadeiro à beira da estrada e atravessámos, durante milhas, uma região de matas esparsas que antigamente tinham feito parte da grande floresta que, durante muito tempo, detivera os invasores saxões - a impenetrável floresta que durante sessenta anos foi o baluarte da Bretanha. Vastos trechos tinham sido desbravados, pois fora ali o local das primeiras siderurgias do país e as árvores tinham sido derrubadas para alimentar a fusão do minério. Agora, os campos mais ricos do Norte tinham absorvido essa indústria e nada (a não ser aqueles pequenos bosques devastados e as grandes cicatrizes na terra) indicava o trabalho do passado. Na parte limpa, na encosta de um monte, via-se uma casa baixa, de pedra, à qual se chegava por um caminho que serpenteava através dos campos. Perto da estrada e cercada em três dos lados por moitas, via-se uma cabana com uma janela e uma porta para o nosso lado. Era ali a cena do crime.»
Sir Arthur Conan Doyle, Pedro Negro in Regresso de Sherlock Holmes I
Imagem: pesquisa do Google
Imagem: pesquisa do Google
5 comentários:
...mas dancemos dancemos já que temos a valsa começada!!!
Sorrio deste teu gosto por Sherlock Holmes! :) O que o motivou, ou motiva, em ti? :) Sinto curiosidade, de facto. Para comparar com o meu caso - que foi o singelo prazer de ver descrito os procedimentos de raciocínio dedutivo apoiados num atento espírito de observação... se bem que, pessoalmente, não tenha nenhuma de tais aptidões - mas admiro-as em quem as tem! -; o máximo que consigo, por vezes, é reconstituir onde terei deixado perdida alguma coisa... :))
real republica: obrigada pela sua visita.
Boas danças :)
vbm: Se sorris, isso é bom, parece-me.
Há coisas inexplicáveis.
Se as explicasse, corria o risco de lhes retirar o encanto que têm para mim.
Mistério!!!! :)
:)
Olá Ana Paula,
Procurando-a, vim ter à casa do Sherlock Holmes, uma casa bastante interessante, aliás como todos os seus espaços.
Gostei deste fragmento de Sir Arthur Conan Doyle. Quer saber uma coisa? Nunca li nenhum livro dele, não levava muito em consideração o romance policial.
Bom fim-de-semana,
Beijos,
Manuela
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