segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Pensar com Dupin - I


A probabilidade do improvável


«Mesmo entre os pensadores mais lúcidos, há poucas pessoas que não tenham sido, ocasionalmente, levadas a uma vaga, embora penetrante, quase crença no sobrenatural, por coincidências de, em aparência, tão maravilhosa natureza que, como meras coincidências, o intelecto as não pôde apreender. Tais sentimentos - porque as quase crenças nunca atingem a plenitude de um pensamento - tais sentimentos raro são cabalmente anulados, a não ser referindo-os à teoria do acaso ou, como se diz em linguagem técnica, ao Cálculo das Probabilidades. Ora este Cálculo é, na sua essência, puramente matemático; eis-nos, pois, perante a anomalia de o que, em ciência, há de mais rigorosamente exacto, se aplicar ao sombrio e ao espiritual da mais intangível das especulações.»
in Edgar Allan Poe, O Mistério de Maria Roget



Imagem Daqui


2 comentários:

vbm disse...

O acaso era considerado a «vontade de Deus». Só no século xix, com Cournot, recebeu uma definição impecável: - «O acaso é o efeito resultante do cruzamento de duas séries causais independentes.» Reflectindo, compreende-se, é mesmo isso e só isso :).

A disse...

Bem, o comentário que ia fazer vai ao encontro da opinião de vbm. Só posso acrescentar, a propósito do "acaso", que este post é muito austeriano. :)
Aproveito para lhe dizer, Ana Paula, que ... há... um prémio... para este... blogue, no «bichocarpinteiro»! Parabéns!